segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Magnólia

Magnólia(Magnolia, 1999, EUA). Direção: Paul Thomas Anderson. 188 minutos.
1999 foi um ano abençoado para a sétima arte, parece até que os diretores de cinema entraram na onda que o mundo iria acabar no inicio do próximo século e resolveram fazer suas obras-primas antes da virada. Veja só alguns interessantes filhotes desse ano maravilhoso: Clube da Luta, Sexto Sentido, Matrix, Bruxa de Blair, Beleza Americana, O informante... E é claro, aquele que é tema desta crítica, o fabuloso MÁGNOLIA.

Vindo de um projeto totalmente anti-hollywood (o também fantástico Boogie Nights, talvez o melhor filme a explorar os bastidores dos filmes pornôs) que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original alem de bastante prestigio, Paul Thomas Anderson, tinha uma responsabilidade muito grande para com esse novo projeto: Agradar aos fãs que já tinha conquistado e se firmar de uma vez como um diretor de verdade e não apenas uma revelação com sorte de principiante.

E se tem uma coisa que Anderson não precisava era sorte.

Não me pergunte como, mas o homem conseguiu reunir, neste que era apenas seu terceiro longa metragem, uma dezena de atores tão prestigiados e talentosos que qualquer pessoa que batesse os olhos no elenco se perguntaria: Todos esses atores estão no mesmo no filme? Esse diretor vendeu a alma pro diabo pra juntar essa galera? Bem, eu tenho uma teoria:

Eles leram o roteiro.

Não tem como não ficar no mínimo interessado ao ter contato com a magnífica história de Magnólia. O filme acompanha 24 horas na vida de uma dezena de personagens, cada um com uma história, um passado, seus próprios fantasmas para enfrentar. Pessoas de carne e osso, como eu e você, que inicialmente parecem ter como única coisa em comum morar em um bairro cortado por uma rua chamada Magnólia. Mas à medida que o filme vai progredindo, suas histórias começam a se interligar e formar um gigantesco mosaico onde nada é por acaso.

A galeria de personagens do filme apresenta um garoto prodígio, Stanley Spector (Jeremy Blackman), seu pai (Michael Bowen) com quem tem uma difícil relação, o apresentador do programa que Stanley participa, Jimmy Gator (Philip Baker Hall), o produtor do programa que está à beira da morte, Earl Partridge (Jason Robards), a esposa de Earl (Julianne Moore) que casou por dinheiro e agora está descobrindo que ama o marido, o enfermeiro de Earl, Phil Parma (Philip Seymour Hoffman), Frank T.J. Mackey (Tom Cruise), que cresceu odiando Earl e agora dá seminários para solteiros. Como se as coincidências não tivessem um fim, Jimmy Gator tem uma filha com quem não fala há anos, Claudia Wilson Gator (Melora Waters). Claudia é viciada em cocaína e nesse dia receberá uma visita do policial Jim Kurring (John C. Reilly) segundo acusações de som alto em seu apartamento, onde os dois acabam se apaixonando. Enquanto isso, Donnie Smith (Wlliam H. Macy), que em 1968 bateu o recorde do mesmo programa que Stanley participa, mas hoje vive depressivo acreditando que a cura para seus problemas é uma cirurgia nos dentes e que isso lhe permitiria conquistar um jovem Barman.

Uffa! E olha que isso é apenas a sinopse.

Provavelmente já deu pra você ter uma idéia da grandiosidade e também da complexidade do filme, que consegue explorar esses e vários outros temas relacionados, sempre com profundidade, dando espaço para que todas as personagens e situações sejam bem desenvolvidas, isso sem tornar o filme enfadonho. São 3 horas, mas 3 horas que passam num piscar de olhos, e não se assuste se logo após o termino do filme você sentir vontade de assisti-lo novamente pra tentar captar melhor algum detalhe ou nuance que possa ter passado despercebido numa primeira visualização.

Magnólia, assim como as grandes obras, é um filme que cresce a partir de um segundo ou terceiro contato.

Temos que tirar o chapéu para Paul Thomas Anderson, não bastasse o sujeito ter elaborado um historia de originalidade impar, ele ainda nos entrega uma da direções mais inspiradas da historia do cinema. Muitos diretores se perderiam no meio de uma história tão grande e cheia de detalhes como essa, mas Anderson consegue torná-la ainda mais prazerosa tanto aos olhos (a parte técnica é invejável, são tantas cenas fantásticas que é uma tarefa impossível enumerá-las) quanto para o coração (a incrível direção de atores, parece que todos eles estavam especialmente inspirados, muitos deles, como Tom Cruise que fez a melhor atuação de sua carreira nesse filme, entregam atuações de cair queixo) some tudo isso com uma das trilha sonoras mais bem escolhidas dos últimos tempos (muitos afirmam que desde Stanley Kubrick, nenhum diretor soube trabalhar tão bem a musica em seus filmes quanto P.T.Anderson) e pronto, o resultado foi uma obra prima.

Não poderia deixar de comentar também o começo do filme(na minha opinião, uma das mais fantásticas e originais formas de iniciar um filme, alem de ser o meu começo favorito), é capaz de parafusar qualquer um na poltrona tamanha sua originalidade. Neste, um prólogo filmado como se fosse um falso documentário, somos apresentados a 3 inacreditáveis coincidências, uma mais estranha que a outra, sendo que a ultima delas, da vontade de pausar o filme e começar a bater palmas!

A função desse começo é muito importante, pois ele nos informa que supostas “coincidências” acontecem o tempo todo bem debaixo do nosso nariz sem que agente perceba, é como se logo naquele comecinho Anderson já nos contagiasse com o clima que perduraria durante todo o filme, alem é claro,de tentar nos preparar pro que viria a acontecer no famoso e polêmico final.

"But it did happen"

Êxodo 8:2.

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