sábado, 10 de outubro de 2009

El Topo

El Topo (El Topo, 1970, México). Direção: Alexandro Jodorowsky. 125 minutos.
Em meio a um deserto escaldante assistimos um homem todo trajado de preto( o próprio Jodorowsky) se aproximar aos poucos de um relógio solar. Tem como únicos companheiros o seu cavalo, também preto, e seu filho (Brontis Jodorowsky também filho do diretor), uma criança totalmente nua que ele carrega em sua garupa. Ao se deparar com o relógio, ele para, atrela seu cavalo e entrega ao seu filho um pequeno urso de brinquedo e o retrato de uma mulher. “Hoje completa sete anos. É um homem agora. Enterre seu primeiro brinquedo e o retrato de sua mãe” Diz o homem ao garoto, e ele o obedece, enquanto ele enterra os objetos o homem toca uma bela melodia em sua flauta. Vemos os dois se afastarem lentamente em seu cavalo.

O homem se chama El Topo (a toupeira).

“A toupeira é um animal que cava túneis no subsolo, a procura do sol, ele às vezes sobe à superfície. Quando vê o sol, fica cego.”

Dessa maneira Alexandro Jodorowsky inicia essa obra prima que podemos chamar de um western spaghetti surrealista. E esse filme era algo inconcebível para época: imagine em plenos anos 70 alguém fazer um filme onde havia sexo real, violência extrema (sem nunca soar gratuita), reflexões filosóficas, lesbianismo, criticas a diversas religiões extremistas, e vários personagens com deformações físicas (que eram aleijados de verdade) tem até uma cena de sexo com uma anã (!). Resultado: o filme foi banido de seu país de origem. A sorte foi q ele passou em um festival de Nova York, onde foi visto por John Lennon, que convenceu seu empresário a comprar os direitos do filme e exibi-lo nos EUA, mas pelo seu conteúdo “diferente” ele só conseguiu fazer com que o exibissem nas sessões de meia noite.

Nascia ai a cultura dos “midnight movies” (filmes controversos que só eram passados uma vez por dia, à meia-noite, e que com a divulgação do “boca a boca” muitas vezes acabavam se tornando verdadeiros filmes de culto). Pra você ter uma idéia da importância disso, diretores como David Lynch e John Waters talvez nunca tivessem conseguido exibir seus filmes se não fosse pelo ponta pé inicial dado por Jodorowsky.

Sobre o filme, não tem palavras que expliquem o que se sente após a sessão, Jodorowsky chegou a afirmar uma vez "Se você é profundo, 'El Topo' é profundo; se você é superficial, 'El Topo' é superficial". Ou seja, como toda obra surrealista, é um experiência muito subjetiva e particular, sendo impossível prever como cada individuo poderá reagir a ela...

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